segunda-feira, 15 de abril de 2013

O resumo dos meus sentimentos de uma maneira racional


Sei que demorei muito para escrever algo que resumisse a minha estada em Israel. Essa foi uma das viagens e uma das experiências mais fascinantes que já tive em toda a minha vida.

Eu demorei por diversos motivos. Muitas vezes, vivenciando uma história e estando no meio dela, é difícil você conseguir fazer todas as considerações de maneira lógica e racional. Normalmente tendemos a pensar orientados pelo que o sentimento nos leva. Mas a conclusão de uma viagem é algo que deve ser feita de maneira fria. Os sentimentos podem ser muito bem usados nos momentos adequados, mas trazer uma opinião de uma experiência de seis meses, que marcou a tua vida, deve ser feita de maneira em que sua análise seja fidedigna a tudo que você viveu.

Diversos pensamentos surgem quando ponho minha cabeça em Israel. O primeiro de todos é a impressionante história de um povo, uma saga real que deve ser contada como uma Ilíada. É uma história incrível de perseverança. Eu sou fruto direto deste pensamento. Aqueles que me conhecem bem sabem que mais do que nada eu sou uma pessoa que acredita na repetição, no exercício, na insistência e no preparo. 

Se há uma característica deste povo ao qual pertenço e com a qual muito me identifico é esta: perseverança. A perseverança vem de diversos lugares, ela é facilmente encontrada em pessoas com fé religiosa, é muito mais fácil você seguir o seu caminho sabendo que há um plano traçado, que o destino do teu povo, e em última instância teu ou de teus descendentes, é garantido.

Há também a perseverança com base na crença de que há um senso de justiça global. Saber que as regras morais vão ser cumpridas no longo prazo te leva a crer no resultado honesto e justo. A humanidade, em seu caminho tortuoso, vem melhorando. A passos muito lentos, mas vem melhorando.

O segundo sentimento que eu acho que identifica muito o povo de Israel é a solidariedade. A preocupação entre todos os seus membros é fortíssima. Em Israel não se nota isso tanto, mas o sentimento existe. Nas cerimônias de lembrança pelos nossos irmãos que tombaram isso é muito marcado. Também na maneira como judeus de outras partes do mundo são recebidos em Israel, uma recepção no estilo latino, bastante calorosa.

Fora de Israel esse sentimento é conhecido e mais exacerbado. Ser minoria inevitavelmente te leva a buscar a proteção coletiva. Mas há um fator de identificação cultural. Pessoas afins se buscam, judeus, de um modo geral, têm muita coisa em comum. Sabemos que há diversas correntes de pensamento, mas há algumas coisas estruturais que compartilhamos.

O terceiro ponto que me vem a cabeça quando penso no povo judaico é a estima e consideração pelos estudos. É algo muito notado. Isso começa com a alfabetização obrigatória entre os meninos que precisam fazer o Bar Mitzvá, mas num mundo onde o acesso à informação era restrito, saber ler foi uma importante ferramenta. Ao longo dos anos, um povo inteiro que sabia ler, debater, pensar e repensar, fincou uma de nossas principais característica, o apreço pelo intelecto.

O resultado disso é a impressionante marca de prêmios Nobel que temos, pela quantidade de empresas geradoras de conhecimento e pelo número de laboratórios instalados no país. Há aqui uma combinação com o elemento de perseverança, em sua forma de coragem. 

Todos estes sentimentos foram reforçados em minha estadia em Israel. O orgulho de ser judeu que em mim sempre foi preponderante, foi reavivado e conheci diversas maneiras com as quais uma pessoa pode expressar seu judaísmo. 

Muitas vezes quando lá estava, cogitando a possibilidade de morar lá em definitivo, pensei em minha família e na distância entre os dois países. Esta possibilidade de saudade duradoura é derivada direta da união que o povo sente entre seus membros. Neste caso, em meu microcosmo familiar.

A estadia em Israel marcou-me profundamente. Vivi a história antiga e moderna de meu povo, em seu lar, conectei-me com judeus de diversas partes do mundo, refloresci meu apreço por fazer parte deste grupo e sigo forte e convicto de que Israel é o nosso porto seguro.

Sempre faz muito bem a uma pessoa reconectar-se às suas raízes. Eu tenho orgulho de fazer parte do povo judeu. 

sábado, 13 de agosto de 2011

Amã e Jerash

Quando chegamos ao albergue fomos recepcionados com um chá. Achei bem legal isso, ficamos de papo na sala da recepção, que era bem legal. O albergue ficava na parte antiga da cidade, parecia bem tradicional. Já ali começamos a usar a internet para buscar as informações sobre a fronteira.

Também conversamos com o recepcionista que nos falou dos horários da fronteira e sobre distância, tempo de viagem e preço dos trechos que estávamos interessados. Vimos que a fronteira que queríamos utilizar estava aberta até às 21hs e a outra, de fato, estava aberta somente até às 12hs. Logo chegamos a conclusão que utilizaríamos a outra fronteira, nosso motorista provavelmente havia se enganado, e como havíamos já contratado todo o serviço, ele não teria problemas em cumprir com o combinado. Deixamos para avisá-lo somente na manhã seguinte.

Saímos a noite para comer algo. Fomos a uma rua chamada Rainbow street que fica numa parte mais alta da cidade, mas bem perto do albergue. Na rua havia muitos restaurantes e lojas e um movimento incrível de carros passando por lá. Muitas cidades tem esse tipo de rua. 

Caminhamos pela rua inteira para ver todas as opções que tínhamos. A rua era bem conservada, com o piso de pedras bem certinhas e a calçada recém reformada. Bem diferente da parte baixa da cidade na qual estávamos, onde tudo era mais sujo e mal conservado. 

As ruas na parte da cidade em que nosso albergue ficava eram velhas, não havia faixas separando as pistas para os carros, sinal de trânsito, vi pouquíssimos em toda a viagem. Para atravessar a rua, apenas nos atirávamos na frente dos carros. Logo na noite que chegamos vimos duas pessoas discutindo fora do carro e se empurrando, até que chegou um guarda que apartou a iminente briga.

Primeiro comemos um falafel na rua, que é bem diferente do que os que comi aqui. Pedimos Pepsi para beber, que com o sotaque árabe fica bebsi, já que eles não tem o fonema p na língua deles.

Depois de comer o falafel, que não tinha dado nem para a entrada fomos para um restaurante pelo qual passamos e vimos que tinha música ao vivo. Tinha um camarada cantando, um tocando teclado e um outro que fazia um backing vocal. De vez em quando alguém se arriscava em cantar.

Três pratos diferentes.
O garçom nos pôs em frente ao trio, típica maneira de tratar turistas! O cantor estava produzido no melhor estilo, sapato de couro, calça jeans, camisa social dobrada e o cabelo, um pouco mais comprido, meticulosamente ajeitado com gel. Ele tinha todo o jeito de galã espanhol. Se movimentava entre as mesas, sorria, dava tchau, perguntava se tudo estava bem. Até nos perguntou se queríamos alguma música.

O cantor figura.
A maneira como ele cantava as músicas era bem engraçada. Todas as músicas me soavam bem parecidas. As músicas árabes são diferente das ocidentais em alguns aspectos. Primeiro notei que todas elas eram bem mais longas, com no mínimo uns 10 minutos de extensão, depois havia um claro diálogo entre a melodia que fazia o cantor e o que respondia o teclado, flauta, violão ou seja qual instrumento fosse o principal da música.

A outra diferença bem notada era que normalmente as palavras eram bem alongadas, com o cantor passeando pelas sílabas subindo e descendo a escala. Bem diferente da maneira de cantar que eu estou habituado. O resultado é curioso para quem nunca ouviu música árabe "de raiz".

Perguntamos o que comer e o garçom nos sugeriu dois pratos e no fim trouxe três sem cobrar pelo último. Comida fartíssima e muito gostosa. Todos os pratos que pedimos tinham como base o hummus. Achei um deles especialmente gostoso, com carne e uma semente, que deixava a combinação crocante. No cardápio sequer havia bebidas alcoólicas.

Mas a narguila estava presente em todo o ambiente e havia um garçom dedicado a passear com um balde com brasas para alimentar o fogo de todos as narguilas. Ele inclusive acendia a narguila dos músicos, num ritual curiosíssimo. Ele fumava acumulando uma quantidade de fumaça em sua boca e em seu entorno, parecendo até um dragão baforando uma quantidade enorme de fumaça.

Além destas atribuições, também o vi balançando o balde com as brasas, num movimento de pêndulo com o braço. O movimento era amplo e ele fazia bem perto dos clientes, fiquei um pouco preocupado com a habilidade dele e se de fato ele conseguiria não deixar tudo cair e queimar tudo em volta. Felizmente ele provou ser bem habilidoso.

Após a fartura gastronômica e cultural, achamos que já era hora de dormir para o dia seguinte, afinal tínhamos Amã, Jerash e ainda uma conversa matinal com o nosso motorista, na qual ele poderia ficar nada feliz de ter que de fato cumprir a programação.

Ligamos o ar-condicionado e fomos dormir, infelizmente o ar não funcionou toda a noite e por isso acordei diversas vezes. Não dormi durante a noite e ainda acordei mais cedo. Desci para tomar café antes dos outros dois, quando todos estávamos prontos, fiquei incumbido de ligar para o motorista e dar a má notícia. Percebi que ele estava dormindo, ele esboçou não fazer todo o caminho e argumentei do preço, do dia de folga que demos para ele no segundo dia, falei das distâncias, falei que havíamos mostrado o caminho. Ele não discutiu e concordou com a nossa hora.

Fomos visitar Amã. Na noite anterior, chegamos no albergue por volta de 1h da manhã, e vimos tudo aberto, muita gente na rua. De manhã foi ao contrário, às 8hs não havia ninguém na rua. Depois eu cheguei a perguntar se isso era por conta do Ramadã, mas me disseram que esse é o ritmo de vida por aqui. Fico imaginando se pelo calor, se somente no verão, mas achei diferente e válido.

A rua do albergue.

O que havíamos visto no trânsito em toda a Jordânia era mais evidente aqui na capital. Nas ruas não havia faixas dividindo as pistas, aqui pelo menos os carros seguiam na mesma direção e não como na estrada que não havia maneira de saber quantas faixas vinham de cada lado.

Galeria em Amã.
Sinal de trânsito, se vi dois na capital foram muitos. E os respeitados eram os próximos à estradas ou ruas de movimento. As pessoas atravessavam em todos os lugares e em várias partes vendedores ficavamo na rua, em frente às suas lojas. As feiras chegavam ao asfalto.

Eu que achava que Israel era um país árabe pude ver que eu estava completamente enganado. Israel tem a cultura muito mais ocidental do que a Jordânia em relação à vários aspectos. Obviamente guarda alguma proximidade com a cultura dos outros países árabes, já que metade da população veio de países com essa cultura.

Pertíssimo do nosso albergue ficava a principal mesquita da cidade, o shouk (feira), comércios e ainda a cidadela romana e o anfiteatro. Começamos o dia visitando o anfiteatro que é enorme. Depois subimos a escadaria para chegar à cidadela. Os prédios eram bem velhos e deteriorados nessa parte da cidade, as leis de trânsito pareciam não se aplicar e para atravessar a rua, usamos o velho método de caminhar como se não víssemos os carros.

O anfiteatro desde um mirante na subida para a cidadela romana.
A cidadela romana tinha algumas construções bem conservadas como o palácio Ummayad, e diversas ruínas. A visita foi legal porém curta, logo voltamos para fazer algumas compras. Eu não gosto dessa cultura de ter de negociar tudo para baixar o preço. Eu gosto de pagar o preço justo, e não um preço que em princípio é mais alto do que eu deveria pagar.

Duas colunas do antigo templo de Hercules na cidadela.
No caminho vimos lojas que vendem aquela ponta de metal que ficam em cima das mesquitas, em forma de meia lua, ou o famoso crescente islâmico. Vimos açougues e pela primeira vez provei tâmara fresca. A que provei tinha a cor abóbora e no início ela tem uma cica que adstringe a boca mas depois fica bem doce. Foi a primeira vez que tinha provado na vida. Fiquei satisfeito porque queria levar para o meu avô e agora sabia exatamente o que procurar em Israel.

Loja de objetos feitos de metal em Amã.
Venda do topo das mesquitas.
Achamos o nosso motorista, fechamos a conta no albergue e entramos no carro. Explicamos detalhe por detalhe o plano para não ter erro, ele pôs o carro em movimento e fomos procurar um banco para sacar dinheiro. Depois ele foi para um ponto de táxi, perguntei do que se tratava e ele nos explicou que não podia nos levar até a fronteira porque ele não tinha a permissão, só os carros brancos.

Ele nos levou a um outro motorista. Negociamos os dois motoristas e eu. Até que eu fechei um preço que achei justo, ele pagaria a parte restante do que fechamos e nós pagaríamos mais 30 dinares. Se não ter alugado um carro nos ajudou pois tinhamos um guia e um intérprete, por outro lado nos trouxe esses probleminhas. Gastamos mais dinheiro do que o planejado inicialmente, mas tivemos mais conforto em contrapartida.

O novo motorista tinha um carro bem melhor que o anterior, mas não gostava de ligar o ar. Aliás, ninguém gosta muito de ligar o ar por essas áreas, ou até gostam, mas não gostam de gastar combustível. A Jordânia não tem o combustível tão barato, já que não é produtora.

O caminho até Jerash foi interrompido por uma parada no meio da estrada para um café. Eles realmente tomam café em todas as oportunidades. Nosso motorista, assim como todos que encontramos na Jordânia, fazem questão de receber bem as visitas, no caso, os turistas. Essa receptividade é algo da cultura árabe que eu acho muito legal.

Assim que chegamos à Jerash vimos uma incrível entrada, o portão de Adriano. Enorme, imponente e muito bonito. O calor que fazia era altíssimo. Em menos de 5 minutos de caminhada eu já estava pingando. A cidade era grande e havíamos combinado somente duas horas com o nosso motorista.

Portão de Adriano.

A rua com colunas dos dois lados.

A cidade tinha várias construções bem conservadas. Dois anfiteatros (como os romanos gostavam de teatro), diversos templos religiosos, ruas pavimentadas com colunas dos dois lados, casa de banho pública, ágora (que curiosamente era usada como feira e não como local para debates públicos) e uma praça oval. O piso das igrejas guardavam desenhos bem legais e as ruas conservavam as pedras ainda.

A praça oval à esquerda e o templo de Zeus à direita.
Voltamos com meia hora de atraso, mas o motorista foi legal e não reclamou nada. Porém, ao longo da viagem, nos perguntou novamente qual o posto de fronteira. Parecia que ninguém estava habituado a levar turistas para lá.

Um dos anfiteatros de Jerash.
Durante a viagem percebi que ele estava xingando o nosso outro motorista. Acho que ele não gostou do preço no final das contas. Depois desse táxi, tivemos de pegar um táxi de 1 dinar para chegar até o posto de fronteira propriamente dito e esse era o único tipo de táxi que pode entrar e nos levar até lá.

O piso bem conservado de uma das diversas igrejas de Jerash.

Depois de pagarmos pela saída da Jordânia, num lugar que não podíamos entrar com malas, tivemos de pagar um ônibus para atravessar a fronteira. Entramos no ônibus, entrou um policial jordaniano, conferiu se todos haviam pago pela saída, depois entrou um policial israelense e conferiu os vistos. O processo todo durou uns 40 minutos. O ônibus cruzou uma cancela e saltamos. Esse foi o processo de fronteira mais ridículo que já vi.

Mas ainda não tinha acabado, depois disso, nos dirigimos ao posto israelense. Dessa vez duas máquinas de raio-x. Esperamos pacientemente na fila, quando chegou minha vez, respondi às questões em hebraico para a senhorita. O José me falou que já nessa hora viu ela piscando para trás indicando que eu deveria ser revistado.

Ela me indicou um banco para sentar, sentei e aguardei. Minhas duas mochilas estavam com ela. Depois de uns 5 minutos um camarada pediu para eu entrar numa sala e me revistou, pediu para eu tirar o tênis e conferiu o tênis e minha sola.

Depois voltei para a esteira, a mulher pediu para examinar minha mochila, abriu, verificou o que queria, botou tudo no lugar, fechou e me disse que eu podia seguir. Minha outra mochila já estava com o Tobias. Depois disso, fui para o guichê para pegar o carimbo de entrada. Novamente o cara examinou tudo, fez perguntas, por fim ele carimbou o passaporte.

Agora, já em Israel, precisávamos de um táxi para sair da fronteira e chegar à Beit Shean. Pegamos um táxi. Na rodoviária não achamos ônibus para Heifa ou Tel Aviv, pegamos um para Afula. Finalmente de Afula peguei um ônibus para Tel Aviv. Chegamos à fronteira por volta de 16hs, cheguei em Tel Aviv 22:30hs. Achei demasiada a jornada para tão pouco espaço físico.

A viagem me mostrou várias coisas. Mostrou no início que qualquer adversidade pode ser vencida, não só pelo conhecimento, expressado em tomar o chá quente no deserto também quente, mas também esse ensinamento veio na forma do coreano que vinha pedalando desde o extremo oriente e estava no meio do deserto.

Também aprendi que não importa o quão forte uma civilização pode ser, se ela não respeitar seus contemporâneos, só ficaram para trás edifícios e alguns conhecimentos, ela não vai continuar. E vi também que Israel, apesar de estar no Oriente Médio não guarda tantas semelhanças com os países árabes como eu pensava.

O desafio de estar num país em que a religião predominante está em conflito com o Estado Judeu me deixou um pouco preocupado, mas mostrou também que as pessoas podem realmente conviver e até criarem algum afeto, se perseverarem no intuito de estarem juntas na jornada da vida.



























sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Kings Road

Petra nos deixou exauridos, mas mesmo assim eu não consegui dormir bem. Primeiro porque por volta de 04:30 da manhã já começam os chamados para a reza matinal. Alto-faltantes anunciando a reza obviamente me fizeram acordar, ainda mais porque não havia ar-condicionado no quarto. 

O resultado foi que dormi pouco, mesmo quando poderia ter dormido mais. Mas aproveitei que já estava acordado e fui tomar banho para agilizar a nossa partida do hotel. Conseguimos ficar prontos perto do planejado, que era sair 07:00hs do hotel.

Porém, nosso motorista teve um problema com o pneu do carro e atrasou. Depois de uns 20 minutos de atraso, pedimos no albergue para ligar para o motorista, e só então, o dono resolveu nos informar que o motorista havia ligado dizendo que só chegaria às 08:00hs. Quer dizer, que se não perguntamos, ele nada diria. E mais, ele nos disse que a roda havia tido um problema. Há uma diferença enorme entre ter um problema na roda e no pneu, até esclarecermos isso, fiquei preocupado com a possibilidade de estar andando na estrada e uma roda do carro cair.

Resolvido tudo isso, partimos para o nosso roteiro, que incluía Shobak, Kerak, Madaba e Monte Nebo. Shobak é uma fortaleze construída por Balduíno I para dar segurança à rota de comércio que passava por ali com produtos vindos da Ásia até à Europa. Kerak é uma fortaleza enorme que foi usada por Cruzados, a dinastia de Saladino, Mamelucos e Otomanos e antes foi a capital de Moab, reino que aparece na bíblia (moabitas). Iriamos passar por Madaba, outra cidade moabita e depois visitar o Monte Nebo, de onde Moisés avistou a terra prometida.

O passeio começou e fomos à Shobak. Começamos a nos mover pelas ruínas e o Tobias logo achou um túnel completamente escuro. Ele seguiu por ele e nesse tempo, fui ao carro buscar as lanternas. Já vi que ele não iria sossegar se não explorasse cada caminho desconhecido.

Fortaleza de Shoubak.
Vista interior da fortaleza de Shoubak.
Achamos um túnel enorme, que levava para o interior da montanha. Fomos descendo e escorregando e caindo. O túnel além de íngrime tinha parte das escadarias completamente deterioradas e cheias de pó o que não facilitava a nossa caminhada.

Túnel dentro da fortaleza.
Depois de descer, descer e descer, finalmente avistamos no final do túnel uma luz. Eu imagino que aquilo fosse uma rota de saída em caso de necessidade de fuga. Depois, na entrada, conversamos com os trabalhadores e eles nos disseram que aquele caminho tinha aproximadamente 360 degraus. 

A saída do túnel. Esse sou eu com a minha lanterna de mineiro.
A conquista do túnel!
Fizemos a volta por fora da montanha e nos tomou uns 10 minutos para chegar ao ponto de partida, de onde continuamos a explorar as ruínas. Voltamos ao carro e dali nos encaminhamos para a direção de Táflia, uma cidade que estava no nosso caminho.

Mais fotos dentro da fortaleza.

Uma parede bem conservada. Ou conservada em parte.
Arcos.

Fizemos uma parada num ponto da estrada que era muito bonito. A vista era para todo o vale. Nesse ponto, perguntei ao Norman, nosso motorista, qual era nosso roteiro. E ele havia excluído Kerak do roteiro. Não fiquei nem um pouco satisfeito e revisei, mais uma vez, todo o nosso roteiro contratado. O problema era que eu havia fechado o roteiro com um taxista de Aqaba e não com ele. E obviamente houve falha na comunicação, ainda mais quando as partes envolvidas não compreendiam inglês perfeitamente.

De todos os modos, dali seguimos para umas piscinas naturais numa parte do país que fica abaixo do nível do mar. Passamos por diversas cidadezinhas no meio do país. Várias delas tinham uma rua principal de mão dupla, divididas no meio por um calçamento estreito. Verduras e frutas eram vendidas na beira da rua. O que me chamou muito a atenção foi a maneira de expôr a carne que estava à venda.

Vi diversas cabras com o corpo inteiro sem o couro, pendurados de cabeça para baixo, com a cabeça completamente preservada ainda presa ao corpo. Vi isso em diversas cidades. Outra coisa que também vi foi um galinheiro, onde o cliente pode escolher a galinha que irá comer na janta, ainda viva, para o abate.

Também vimos dois acidentes, só nesse dia, não me causou surpresa alguma pelo modo como eles dirigiam.

As piscinas térmicas tinham águas realmente quentes, e com o calor que fazia, parecia insana a idéia de entrar nelas. Procurei por piscinas com águas geladas, mas não havia. A solução foi entrar na piscina de água quente. Aqui ficou comprovado o mesmo efeito que o chá faz, saindo da piscina, o clima parecia bem mais agradável. Curioso era a velocidade com a qual secávamos após sair da piscina, não contei nem 3 minutos.

Águas termais.
Depois nos aventuramos para tomar uma ducha de respingo das águas de uma encosta. Aí sim a água era bem gelada, penas que caia à conta-gotas.


Vista de um ponto no meio da estrada.
A gente na represa vista na foto anterior.

Seguimos o nosso passeio e concordamos em pagar mais para ir à Kerak. Essa fortaleza era impressionante. Vimos três andares dela, mas ela chegou a ter sete. Passou pela mão de diversos controladores que fizeram as modificações pertinentes aos seus problemas.

Fortaleza de Kerak, apenas parte dela, que era enorme.
Visitamos a cozinha e os fornos. Um para carne e dois para pães. O tamanho de tudo era impressionante. O estábulo também era enorme e a fortaleza permitia acomodar 1000 pessoas.

Vista para o vale da fortaleza. Nota-se a importância estratégica do ponto.
De Karak seguimos para o Mádaba, mas não chegamos a tempo de visitar a igreja na qual se encontra um mapa antigo de toda a região. O mapa é rico em detalhes mas não pudemos vê-lo. Seguimos diretamente para o Monte Nebo e por pouco não perdemos o horário de entrada também.


Vista do Monte Nebo.

A vista do monte é realmente privilegiada. Dele podíamos ver o Mar Morto e o outro lado dele, ou seja, Israel. Também conseguíamos ver diversas cidades. A vista, porém, não estava muito clara, uma neblina encobria toda a paisagem. Eu suponho que seja água que evapora do Mar Morto. Com o calor que fazia era a única explicação para o céu não estar aberto.


Legenda do que é possível avistar do Monte Nebo.
Depois de apreciar a bela vista, resolvemos ir ver o pôr do sol no Mar Morto. Nosso motorista nos sugeriu um complexo hoteleiro bem legal, porém, bem caro. De todos os modos, sou uma das pessoas que tomou banho no Mar Morto dos dois lados! E o por do sol dali foi especial e bem bonito, com o sol se pondo atrás das montanhas de Jerusalém.


Resort no Mar Morto.


Depois do pôr do sol.
Depois de relaxar nesse complexo, fomos para Aman. Chegamos a noite e aí tivemos uma dura negociação com o nosso guia. Ele queria quase todo o dinheiro, nos avisou que a fronteira fechava ao meio-dia e que não teríamos tempo de ir a Jerash, ao norte.


A informação da fronteira bateu contra a informação que tínhamos. O acordado estaria saindo muito caro e ele ainda havia adicionado valor pelas partes extras. Não estávamos satisfeitos, estavamos em Aman, à noite. Para não ficar discutindo, concordamos em ver Aman pela manhã e depois seguir para a fronteira.

Nossa idéia era buscar o horário na internet e se fosse possível, ir ao norte, já que ele havia concordado em nos levar à Jerash caso quiséssemos. Eu senti que o cara queria terminar o passeio antes e devia ter outros clientes ou alguma outra coisa.

Fomos para o albergue, fomos bem recebidos. Tínhamos internet para verificar tudo e tínhamos fome, e por isso queríamos passear. Aman seria um ponto crucial.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Petra

O segundo dia da viagem era pra mim um dos mais esperados. Era a visita à famosa Petra, cidade antiqüíssima, citada na bíblia e que estima-se, já era habitada há mais de 3500 anos atrás. Se até Indiana Jones passou por Petra, eu também tinha de visitá-la.
Petra ficava bem perto do nosso albergue, de onde tomamos a condução gratuita por eles oferecida. Em menos de 15 minutos já estávamos na entrada do sítio. A entrada do parque não fazia jus à dimensão do que encontraríamos depois. Eu não tinha a menor idéia do tamanho da cidade, e achava que em meio dia conseguiria visitar toda a região. 

Eu estava completamente enganado. O dia durou 11 horas, não somente de caminhadas, mas também de subidas por trilhas, escadarias e longos caminhos. O Tobias, que já havia mostrado todo o seu apetite por caminhadas intermináveis em Eilat, se superou nessa parte da viagem. Não perdemos uma trilha ou caverna.

Chegamos bem cedo no parque, entramos e fomos caminhando, sob o forte sol, mesmo para a manhã. Rapidamente chegamos a um caminho no meio de duas montanhas, esse caminho tortuoso que passa pelas montanhas é chamado de Siq. O caminho era bem agradável e à sombra, o que foi fundamental. No caminho vimos diversas figuras entalhadas, vimos também um aqueduto que corria paralelo ao chão e também já algumas construções entalhadas nas pedras.

Caminhei durante aproximadamente 10 minutos até avistar uma das construções mais impressionantes de todo o sítio, conhecida como O tesouro. Eu gostaria de ter feito o caminho noturno, no qual depois a construção é revelada em todo seu esplendor, porém, no albergue no mesmo dia que chegamos, fomos informados que os passeios são realizados somente às segundas e quintas, e que inclusive, no dia anterior, o passeio noturno havia sido cancelado.

O tesouro.
Infelizmente não dá para controlar tudo na vida, algumas coisas escapam ao nosso conhecimento, e nesse caso, foi falta de planejamento. Mas fica a dica para aqueles que tiverem vontade de fazer o passeio noturno.

Depois de ver essa impressionante construção, achei que nada mais me impressionaria. Novamente outro engano. Seguimos o caminho que nos levou a uma área aberta com diversas construções. Havia diversas construções entalhadas nas pedras. Por todos os lados que olhávamos víamos janelas e portas.

Diversas janelas e casas construídas nas pedras faziam lembrar filmes de ficção científica.
A visão parecia de um filme de ficção onde povos moram em cavernas esculpidas por eles no meio das pedras. Uma escada subia à nossa esquerda, mas optamos por seguir em frente e visitar as grandes tumbas. Passamos pelo anfiteatro até chegarmos às tumbas.

Detalhes das construções.
Elas eram enormes. Logo na primeira descobrimos uma trilha, que o Tobias fez questão de subir, de aproximadamente 40 minutos. Seguimos a trilha até encontrarmos uma bela vista do Tesouro, desta vez de cima. A longa caminhada valeu muito a visa. Lá em cima, pausa para comer uns quitutes. Água era uma constante no nosso passeio, tomamos litros e mais litros de água.

Uma das tumbas.

As tumbas eram grandiosas.
A volta foi tranquila, seguimos deste ponto vendo outras tumbas enormes e descobrimos que havia uma trilha bem mais tranquila para chegar ao ponto do qual viemos. Fazer o que, já havíamos subido tudo.

Caminho seguro durante todo o passeio.

Uma bela vista na caminhada.

O tesouro em tomada aérea.
De lá seguimos para a rua pavimentada do período romano. Ali vimos à nossa esquerda um templo enorme, e a direita um templo menor que só visitamos depois. Do lado deste templo menor havia o piso da igreja bizantina extremamente bem conservado. 

Piso da igreja binzantina extremamente bem conservado.

Depois de passar por essa rua pavimentada, seguimos pela trilha para chegar ao monastério. Antes paramos para tomar um dos sucos de laranja mais caros que já tomei na minha vida. 

O caminho levou no mínimo uma hora e foi novamente bem puxada. Mas era feito em grande parte por escadas, o que nos poupou os joelhos. 

A construção no topo não nos decepcionou e ficamos novamente impressionados com a dimensão e precisão do trabalho executado. Aqui nova pausa para comida e água, escutando ao fundo uma música tocada num instrumento que parecia ter somente uma corda. Incessante, a música dava nos nervos. 

O monastério.

De lá seguimos para o que eles convencionaram chamar de visão para o fim do mundo. Na verdade, mais uma visão para um grande vale. Bonita, mas não era imperdível. Lá um beduíno muito mal educado destratou uma espanhola que havíamos acabado de conhecer. O tratamento dado já nos fora alertado por três alemãs que haviam sido escorraçadas de lá por ele. Não entendi tanto mau humor. Mas enfim, saímos porque não fazia o menor sentido ficar escutando as injúrias do sujeito.

De lá descemos todo o caminho, e como ainda tínhamos tempo, resolvemos fazer a trilha que passava pelo altar de sacrifícios no alto de outra montanha. Essa caminhada foi a mais dura. Era feita em escadas extremamente íngrimes, já não tínhamos quase água e pouca comida. Chegando lá em cima, depois de um esforço sobre-humano, em mais outra hora de caminhada, uma baduína ainda ficou nos perturbando falando diversas coisas sem o menor sentido e tocando uma flauta de péssimo gosto.

Depois de comer o que havia e terminar com a água, descemos pela outro lado do caminho, que nos levou àquela escada lá do início do passeio. Se soubéssemos um pouco mais, poderíamos ter feito todos os circuitos circulares. 

O caminho de volta nos trouxe uma sensação de orgulho. Havíamos conseguido explorar grande parte do sítio arqueológico em apenas um dia, fazendo valer a entrada de 50 dinares, que vale aproximadamente 50 euros. Antes, é claro, pagamos 3 dinares numa garrafa de água que vale em qualquer lugar 0,50 centavos de dinar. 

Castelo de Greyskull.

O esqueleto não quis nos receber.
Quando chegamos no albergue, a comida já estava sendo servida, apesar de estarmos completamente suados e fedendo mais do que os dromedários do deserto, jantamos e tomamos uma cerveja para coroar esse maravilhoso dia. 

O dia seguinte nos esperava bem cedo para fazer o nosso passeio pela estrada do Rei.


Quem tá vindo aí?


Wadi Rum

Acordamos cedo no dia de cruzar a fronteira, sexta-feira, nos aprontamos bem rapidamente e pegamos um táxi para a fronteira. Já havia uma pequena fila no posto. Quando abriram a fronteira, mostramos passaportes, e seguimos para cumprir com a burocracia. Primeiro pagamos uma taxa de saída de Israel, depois passamos pelo guichê de controle de saída e entrada do país, para carimbar o passaporte. 

O José estava preocupado de entrar na Jordânia com o passaporte israelense, então conversou com o funcionário da aduana para averiguar de que maneira ele podia utilizar o passaporte brasileiro dele para entrar na Jordânia. Ele ficou bem tranqüilo porque poderia utilizar seu passaporte brasileiro no lado jordaniano.

A fronteira sul com a Jordânia.

Cumpridas as exigências da parte israelense, fomos para a parte jordaniana, que ficava mais adiante. Isso me chamou a atenção, na fronteira de Uruguaiana no Brasil, o controle é praticamente integrado. Isso já mostra que tipo de relação há entre os dois países.

Na parte jordaniana tivemos de perguntar por tudo, já que tudo era mal sinalizado. Pegamos nosso visto e cruzamos a fronteira. Do lado de lá negociamos com um taxista para nos levar a uma empresa de alguel de carros. Ele nos ofereceu o serviço de táxi por todo o país. Achamos melhor seguir com a idéia do aluguel do carro.

No caminho vimos tudo fechado, além de ser sexta, que é fim de semana nos países muçulmanos, ainda era Ramadã, o mês no qual os muçulmanos não comem nada durante o dia para só quebrar o jejum a noite. 

Começamos a nos olhar e dava pra ver que todos ponderávamos se não era melhor fechar com o motorista para fazer nossa programação. Por fim concordamos em fechar o pacote por 4 dias com motorista à disposição. 

O nosso taxista ligou para outro taxista e este sim seria o nosso motorista. Não demorou muito para chegar. Ele se apresentou, Norman, e nos apresentamos. Logo no início ele nos levou para uma estação de gasolina para comprar suprimentos para a viagem. Compramos água, suco e algumas nozes misturadas (amendoim, amêndoa, castanha de caju, pistache e algumas outras) com um tempero excelente. Até agora posso sentir o gosto do tempero, que aprendi o nome em árabe, mas acho que vai ser difícil achar por aqui (Im dachan - se árabe for parecido com hebraico, im é com).

De lá seguimos para o deserto do Wadi Rum. Durante o passeio paramos em alguns pontos no meio do deserto. A estrada era relativamente nova, porém, já ali vi como era o trânsito no país. De vez em quando, aparecia na pista um pneu de caminhão estourado e o Norman era obrigado a desviar. Vimos também um caminhão atravessado na pista, parado, provavelmente com algum problema no motor.

No carro também me dei conta que se fumava bastante no país, já que o nosso motorista fumava bastante. Ao longo da viagem vi que todos fumam muito por este lado do globo.

A estrada, um pouco sinuosa, cortava vales e cadeias montanhosas, o deserto é bem bonito nessa região. Também avistávamos diversas montanhas de cores variadas nas quais era possível ver nitidamente as camadas de sedimento que às formavam. Algumas tinham uma diferença de cor notada entre a parte inferior, escura, e a parte superior, clara, mostrando que num passado era tudo banhado por água.

Uma parada no deserto antes de chegar propriamente ao Wadi Rum.
Chegamos ao parque. O nosso motorista tratou de conversar algo em árabe na entrada e nos levou ao povoado, onde logo nos ofereceram o serviço de guias. Contratamos o início do passeio de dromedário e depois o resto de jipe. 

No dromedário.
O início do passeio foi pesado, 40 minutos em cima do lombo de um dromedário que balançava absurdamente sob forte sol do deserto não foi das melhores idéias que já tive. A cela do dromedário tinha um pino de madeira na frente para amarrar a corda que serve de guia e tinha um outro pino semelhante atrás, que eu acho que só servia para ficar batendo nas costas. Aliás, eu fiquei sentindo dor na costas por dois dias.

No meio do deserto, em cima de um dromedário.
Depois que chegamos ao local eu vi que o local da primeira parada era muito perto. Assim que chegamos encontramos um coreano que estava com uma bicicleta debaixo de uma árvore e com diversos equipamentos de acampamento.

O local de acampamento do coreano, ao lado, dois dromedários.
Fomos conversar com ele e ele nos disse que vinha pedalando da China até o Paquistão, de onde pegou um vôo para Aman, desceu toda a Jordânia até o deserto de Wadi Rum. Depois ia pedalar por Israel, descer a África para depois ir para a América do Sul. Que cara doido.

As formações rochosas no meio do deserto.
O primeiro ponto no qual paramos foi a fonte de Lawrence das Arábias. Esse camarada inglês, foi responsável por explorar (acredito que em ambos os sentidos) o Oriente Médio. Essa fonte é descrita em seu livro (Sete pilares da sabedoria) como um "pequeno paraíso" no meio do deserto. De fato obter água nessa região é um milagre. Os beduínos tinham uma tenda armada por ali e nos ofereceram chá.


Imediatamente aceitamos o chá, tomamos e descansamos. Encontramos um grupo de holandeses e ficamos de papo, recuperando as energias. Depois disso resolvemos escalar a montanha para ver de onde vinha a água. A subida foi feita em cima de grandes pedras, sob forte calor e por isso difícil. No topo vimos a fonte. Havia muita vida ali em comparação àquela região. 

A vista da fonte propriamente dita. Abaixo vemos o acampamento da primeira parada.
A água era coletada e canalizada para baixo. O local em que a água acumulava era coberta por uma espécie de musgo verde. Logo pensei que a água do chá que tomei tinha vindo dali. Ali também tinha uma figueira, provamos o figo, que era muito gostoso, mas diferente do nosso. Pequeno e mais consistente, achei muito mais gostoso do que o que sempre comi no Brasil.


Descemos a fonte, já apressados por nosso guia, para seguir o passeio. Ainda deu tempo de ver uma enorme rocha com inscrições talmúdicas de mais de 2000 anos de idade.

A segunda parada foi numa fenda incrível. Novamente um acampamento beduíno nos aguardava, mas dessa vez preferimos fazer o passeio primeiro para somente depois tomar o chá. A fenda era enorme, mas não conseguimos entrar muito nele, já que a frente havia uma parte para escalar, mas que não conseguiríamos sem equipamentos.

A entrada da fenda.

No caminho que se formava, vimos várias inscrições nas pedras. Uma coisa curiosa foi que a areia tinha uma cor diferente, avermelhada. Dava para ver o contraste olhando para o chão entre a areia regular, num tom bege e essa areia.

A fenda entre duas montanhas enormes.

A areia em contato com o meu tênis marrom deixou ele com a cor verde. Fiquei bem impressionado porque o verde era intenso e realmente havia mudado a cor do tênis.

Depois da visita, paramos na tenda para tomar um chá. Perguntamos sobre o itinerário e o próximo ponto para visitar não era um que estava no mapa. Queríamos ir para uma ponte de pedra que era mais distante e estava marcada no mapa. Mas um outro camarada que estava na tenda falou que visitaríamos um mais próximo.

Eu não fiquei satisfeito e falei pra ele que não era o acordado. Ele falou que se quiséssemos visitar esse ponto mais distante, deveríamos pagar mais, além do mais, o passeio já havia ultrapassado as duas horas que segundo ele, fora o tempo contratado. Nesse impasse eu falei que entendia ele mas não concordava.

Ele não entendeu isso, para ele não fazia sentido entender e não concordar. Ficamos no impasse até que eu desisti de tentar explicar para ele e seguimos com o passeio. Além do mais, horário não havia sido combinado. Comunicação, no fim, se mostrou o maior problema que tivemos na viagem.

Depois de um bom passeio de jipe, chegamos no terceiro ponto de visitação. Era uma formação rochosa que dava a impressão de ser uma ponte de pedra. Para nos liderar na subida, havia um beduíno bem novo e muito ágil. Ele subia e descia as pedras correndo, descalço e numa velocidade incrível.

Não foi difícil chegar ao topo, logo chegamos, e dali a vista do deserto também era bem legal. Incrível que com o tempo, rochas possam ser moldadas em figuras tão impressionantes.

A ponte de pedra.
Esse foi o último ponto do nosso passeio. Dali voltamos para a vila que fica na entrada do parque nacional. Eu comentei com o motorista sobre a navegação, já que ele conhecia muito bem os caminhos pelo deserto, o que para mim parecia surpreendente, já que para orientá-lo, somente via montanhas ao fundo.

Chegamos logo ao povoado e lá nos esperava nosso motorista. Seguimos em direção à Petra, novamente pela estrada, parando em alguns pontos que nos davam uma ampla visão do vale.

A caminho de Petra.
Chegamos no nosso albergue, fizemos o check in e perguntamos da janta. Ela era servida perto do horário do pôr do sol. Subimos, tomamos um belo banho e aguardamos a janta. Perto de 19:30hs a janta começou a ser posta na mesa.

Área comum onde eram servidas as refeições.

O nosso albergue tinha uma bela vista para a parte mais baixa da cidade. O jantar tinha bastante comida e o clima era bem fresco. Nos servimos como reis e começamos a comer. Bem no início da janta, ouvimos diversos chamados das mesquitas para o horário da reza.

O banquete. Na foto não aparece o arroz com frango, outra delícia.

Se eu achava que em Iafo o som era alto, aqui o som era extremamente alto. Diversas mesquitas que pareciam competir pela atençao dos fiéis entoavam o cântico de chamado à reza. Foi um espetáculo à parte, que rivalizou com o belo por do sol que pudêmos ver do nosso albergue.

O belo pôr do sol visto de nosso albergue.